O que você consome ou cria te atravessa ou é uma tarefa a ser cumprida?

Vim aqui te lembrar de algo, pra refletir junto comigo 🫰🏽

Certa vez, eu estava conversando com um amigo que também amava filmes, e perguntei se ele usava o app Letterboxd. Ele disse que não usava mais, porque toda vez que ia assistir a um filme, ficava pensando em qual nota daria no Letterboxd. Era algo que estava acontecendo comigo também, e não só com filmes.

Atualmente, existem inúmeras formas de mostrar métricas do que você faz, e isso insere uma implicação diferente ao realizar algo que antes era tão natural para você: simplesmente assistir a algo de que gosta, sem pensar no depois. O tempo livre vira mais uma lista de tarefas: ver séries, fazer cursos, praticar hobbies “úteis”. Tudo vira estímulo rápido, raso, imediato. Sem reflexão, sem pausa.

As pessoas podem ter várias atividades, mas não ficam a sós com o que foi gerado a partir dessas experiências. Elas perdem sua função de expressão ou prazer e passam a servir apenas para ocupar o vazio, sem real envolvimento. Hobbies viram ferramentas de produtividade; transformam-se em tarefas ou métricas (tempo gasto, nível de habilidade, desempenho). Isso é só um exemplo do que vivemos hoje: as atividades de lazer viraram métricas. Assistir a um filme já não é apenas uma experiência. Tudo pode virar algo a ser otimizado, interpretado, marcado, usado.

Se deixar atravessar é algo que Clarice lispector tinha primor em deixar acontecer consigo mesma. ✨Alguma atividade que está fazendo de repente pode te tocar de um jeito, sem aviso, aquilo te encontra. Desorganiza ou revela. Não é só fazer, é ser afetado. O gesto deixa de ser apenas uma ação externa e se torna um lugar interno. ✨

✨ Nem tudo precisa de significação ou algum sentido, mas atualmente estamos cada vez mais perdendo a habilidade de !PRESENCIAR! algo que gostamos! ✨

Não é fácil sair desta armadilha, é uma reflexão constante no dia a dia. Espero que isso também possa fazer sentido pra você.